“Escutem, viajantes...
quando o vento sopra do norte e a geada se deita sobre os telhados, não é o frio que chega primeiro — é Ela.
A Velha do Inverno desperta de seu sono de pedra, e o mundo volta a se curvar diante do tempo.”
Entre as montanhas enevoadas da Escócia e as terras antigas da Irlanda, ecoa o nome de uma deusa esquecida pelos homens, mas lembrada pela terra: Cailleach, a Velha do Inverno.
Dizem que ela nasceu quando o primeiro trovão ressoou sobre o mundo, moldada do gelo e da rocha. De cabelos brancos como a neve e olhos azuis como o céu de dezembro, Cailleach é a senhora do frio e do tempo, guardiã dos ciclos que fazem a vida florescer e murchar. Com um martelo de pedra em mãos, moldou montanhas, cavou vales e abriu fendas nas rochas.
Cada golpe seu fazia o vento soprar e as tempestades nascerem. Mas seu poder não é de destruição — é de renovação. Ela encerra o verão para que o novo possa nascer, apaga o fogo para que outro seja aceso.
Há quem diga que Cailleach é o espelho de Brígid, a deusa do fogo e da primavera. Ambas são faces de uma mesma força — o frio e o calor, o fim e o recomeço. Quando chega o festival celta de Imbolc, na alvorada de fevereiro, Cailleach desperta. Sai pelas colinas com seu cajado, observando o céu.
Se o dia amanhece claro e ensolarado, é sinal de que o inverno ainda durará — pois a Velha recolheu lenha para manter o frio aceso. Mas se o dia surge nublado e chuvoso, ela ainda dorme, e a primavera logo virá. Dessa antiga crença nasceu, séculos depois, o Dia da Marmota — um eco moderno da sabedoria pagã.
Quando o sol começa a vencer e as flores retornam, Cailleach recolhe-se ao norte, cansada. Deita-se sobre um penhasco e adormece profundamente — e então torna-se pedra.
Nas terras altas da Escócia há montes e rochedos que o povo chama de “A Cadeira da Cailleach”. Ali, dizem, a deusa repousa em silêncio, observando as mudanças do mundo que ela mesma ajudou a moldar.
E quando o primeiro vento frio volta a soprar, os corvos anunciam:
“A Velha do Inverno desperta novamente.”
Aqueles que ainda honram a antiga sabedoria sabem que Cailleach não é inimiga da vida, mas guardiã do equilíbrio. Ela ensina que há beleza no declínio, sabedoria no silêncio e poder na paciência da espera. Pois até a terra precisa dormir antes de florescer outra vez.
“Quando as chamas da Taverna se apagarem e o vento uivar nas frestas da porta,
lembrem-se de Cailleach — a senhora das tempestades.
Pois é sob o toque gelado da Velha do Inverno que a vida renasce com mais força.”

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