“Nas profundezas onde o vento não chega, há um riso que se confunde com o som das folhas.
É o Leshy brincando com os que ousam entrar sem permissão...”
Dizem que nas florestas antigas da Rússia e das terras bálticas habita uma entidade tão velha quanto as próprias árvores. Chamam-no Leshy, o Espírito da Floresta. Alto como um carvalho ou pequeno como um esquilo, o Leshy muda de forma conforme o humor ou a intenção.
Pode ser um homem de barba verde, coberto de musgo e raízes, com olhos que brilham como se refletissem o próprio coração da mata. Outras vezes, é apenas um sopro, um rastro de riso entre as copas, um vulto que desaparece na névoa antes que alguém possa jurar tê-lo visto.
Quem entra na floresta sem pedir licença pode ouvir passos que não são seus, sentir o vento guiar para o caminho errado, e de repente — a trilha se perde. O Leshy é conhecido por enganar os caçadores, confundir os viajantes e proteger as criaturas selvagens. Não o faz por maldade, mas por equilíbrio.
A floresta é viva, e ele é o seu guardião, o espírito que garante que o homem jamais esqueça o respeito que deve à natureza. Reza a lenda que quem o agrada pode receber proteção e boa caça — basta deixar um pedaço de pão, uma pitada de sal ou uma oferenda feita com sinceridade. Mas zombar da floresta, quebrar galhos à toa ou matar sem necessidade é assinar a própria sentença de perda: o Leshy o fará vagar até a loucura ou o silêncio.
Na mitologia eslava, o Leshy é uma das criaturas mais antigas, filho da Terra e das Árvores. Algumas versões o colocam como servo dos deuses das colheitas; outras, como irmão dos lobos e companheiro dos espíritos d’água. Costumam aparecer nos contos como grandes cogumelos falantes. Geralmente o psicotrópico cogumelo Amanita muscaria, conhecido como Agário-das-moscas. Trata-se de um fungo natural de regiões com clima boreal e temperado do hemisfério norte, possui propriedades psicoativas e alucinógenas em seres humanos. Os efeitos são apresentados após 15 minutos de sua ingestão que inicialmente apresenta desconforto e, posteriormente um sono leve, dando oportunidade à pessoa experimentar visões e imagens oníricas.
Em muitas aldeias, acreditava-se que cada bosque tinha o seu próprio Leshy — um espírito local com personalidade própria, às vezes benevolente, às vezes cruel. Os camponeses contavam que, ao ouvir gargalhadas ecoando na mata, era sinal de que o Leshy estava brincando com alguém. E quem ria de volta... dificilmente encontrava o caminho de casa.
O Leshy representa a força selvagem e indomável da natureza, o lado espiritual da floresta que o homem civilizado tenta domar, mas nunca domina. Ele é o eco ancestral do respeito — aquele sussurro que diz:
“Nem tudo que cresce sob o sol pertence a ti.”

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