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Thor na Terra dos Gigantes

 


Viajavam Thor, seu criado Thialfi e Loki, o mais astuto dos Deuses. Estavam indo rumo a Jotunheim, a terra dos gigantes, para que o poderoso Thor pudesse os desafiar. Até que todos chegaram a uma grande floresta. Eles pararam e resolveram procurar um bom lugar para passar a noite, cada um seguiu um caminho e Thor finalmente encontrou uma caverna, ampla e seca e não parecia haver nenhum animal ou qualquer outro tipo de criatura habitando seu interior, Loki observou que a caverna possuía cinco câmaras amplas e escolheram a maior.

Dormiram um bom pedaço da noite, quando, subitamente, foram despertados por um tremendo baque seguido de um ruído assustador, que lembrava o grito de mil ursos. Loki se assustou, Thor e Thialfi ficaram em alerta, mas o silêncio voltou e tudo parecia estar calmo novamente, resolveram então voltar a dormir. Na manhã seguinte, saíram todos da caverna e indagaram sobre o ocorrido, segundo Thor florestas escuras como estas são pródigas em ruídos misteriosos. Mas, o deus estava enganado, pois, logo adiante, deram de cara com um monstruoso gigante que, estirado na relva, ainda dormia profundamente. Embora tenham decidido sair em silêncio, o gigante acordou, pois suas grandes orelhas foram capazes de captar os três cochichando, abriu seus gigantescos olhos com remelas do tamanho de batatas fritas.

O gigante levantou e quis logo saber quem estava ali e se pondo a procurar algo com grande avidez. O poderoso Deus Thor fez as devidas apresentações e disse estar seguindo caminho para Jotunheim enquanto o gigante procurava por algo até que encontrou, era sua luva, da qual Thor e os outros tinham tomado como caverna, a câmara espaçosa que haviam escolhido era nada menos que o dedo polegar da luva. O gigante se apresentou como Skrymir e disse estar indo também para Jotunheim e os convidou para seguir caminho juntos.

Fizeram uma rápida refeição e seguiram viagem, o gigante adiante a passos largos carregando sua ruidosa mochila de provisões e os demais acelerando o passo para acompanhá-lo. Ao ver, entretanto, que os asgardianos também levavam algum mantimento, propôs que todos, como bons companheiros de viagem, partilhassem seus mantimentos, assim Skrymir pegou as mochilas dos três e introduziu dentro da sua, e com isso, a partilha estava feita.

Assim, viajaram durante todo o dia com o gigante regalando-se de hora em hora, ao mesmo tempo em que os outros penavam sede e fome contínuas, até que o dia escureceu novamente e todos acomodaram-se sob uma grande árvore para descansar e passar a noite. O gigante, entretanto, antes de começar a roncar disse aos outros para que se servissem, livremente, dos mantimentos que havia em abundância na sua mochila, acrescentando cinicamente: "dormir de estômago vazio provoca pesadelos".

Logo o gigante estava dormindo e roncando bem alto, os três já estavam com muita fome e Thor tentou abrir a maldita mochila que estava muito bem amarrada. Irado, o poderoso Deus bradou sua ira, pegou seu martelo e desfechou um furioso golpe em sua testa. Um estrondo cavo ressoou por toda a floresta, como se um pavoroso trovão tivesse eclodido. Acordou assustado, imaginando que houvessem muitos ninhos de pássaros ali pois parece que tivera caído um pena em sua cabeça e indagou aos três se já tinham feito a refeição, logo voltou a dormir.

Inconformado com a tentativa desastrosa, empunhou novamente o martelo e golpeou mais uma vez. O gigante acordou novamente assustado e pensou que uma noz havia caído em sua cabeça, virou de lado e voltou a dormir. Diante das infrutíferas tentativas de Thor, resolveu então descansar e guardar para o amanhecer seu golpe final, imaginando que até lá já estaria bem descansado e apto a conseguir algum resultado.

Tão logo o sol raiou, ele se pôs em pé, mais disposto, embora ainda esfomeado e percebendo que o gigante ainda dormia profundamente, tomou de seu martelo e aplicou-lhe um golpe tão violento, que o instrumento se enterrou até o cabo dentro da cabeça do desgraçado, que acordou com um grande bocejo. Alisando a cabeça disse que algum passarinho largou uma titica sobre a sua cabeça, pondo-se em pé, Skrymir conclamou os demais para que também acordassem.

Começaram a andar e Skrymir os advertiu, dizendo-lhes para se prepararem, pois lá encontrarão gigantes de verdade, bem maiores que ele. Finalmente chegaram à uma encruzilhada  e ali eles se separariam, Skrymir disse que seguiria para o norte e eles deveriam seguir a estrada que vai para o leste. Como um último conselho disse para que eles evitem ser arrogantes diante dos gigantes em especial com um chamado Utgardloki, assim Skrymir tomou seu caminho e logo desapareceu por entre a floresta do norte.

Depois de muita caminhada avistaram um palácio gigantesco, tão gigantesco que ao tentar avistar a mais alta das torres, quase caíram de costas no chão, o portão estava trancado e o poderoso Thor por mais que tentasse não conseguia abri-lo, mas uma pequena fenda havia ali entre duas folhas. Pequena para os gigantes, mas para Thor e seus companheiros de viagem era possível passar por ali se espremendo, e foi o que fizeram, já dentro do palácio foram com cautela, passando por debaixo de vários sentinelas que não puderam os ver, a menos que tivessem olhos nos joelhos.

Chegaram todos ao salão dos gigantes, subiram em um banquinho, Thor tentou chamar a atenção de todos com sua voz, mas era apenas um zumbido de uma mosca entre os gigantes, então o poderoso Deus levantou seu martelo e malhou todo o banquinho até ficar em pedaços, todos o viram, agora com a atenção de todos ele se apresentou e anunciou que estava ali para desafiá-los, todos caíram no riso e uma voz, que vinha lá de trás na ponta da grande mesa que estava sendo servida um banquete, disse ser Utgardloki, ficou surpreso por aquele ser o grande Deus do trovão, mas como um bom anfitrião os convidaram para sentar-se a mesa e se servirem.

Antes que pudessem desfrutar da generosa hospitalidade, Utgardloki disse que eles deveriam brinda com algum prodígio de força ou habilidade. Loki, que não estava para muitas conversas, e sentia dentro do estômago um buraco do tamanho daquelas criaturas, adiantou-se e disse que o prodígio do qual se sente capaz naquele momento seria o de comer mais que qualquer um ali presente. O desafio foi aceito e Logi, o gigante mais forte e esfomeado, foi escolhido para essa disputa. Logo, travessas imensas de carne foram postas diante dos dois. Para Loki, a carne foi servida sob a forma de pernis, enquanto, para Logi, foram servidos bois inteiros.

Dado o sinal, os dois competidores arreganharam os dentes e lançaram-se às suas porções com terrível voracidade. Loki fez jus à sua fama de voraz comilão, tendo esvaziado a sua travessa no mesmo espaço de tempo que o adversário. Só que este, como a perfeita personificação da Fome, não só devorara a sua porção como também os ossos e a travessa, o que lhe valeu a vitória.

O próximo é Thialfi e segundo ele, seu prodígio é de ser o mais veloz entre os mortais, para essa disputa veio o gigante mais veloz entre eles, Hugi, que da outra ponta da mesa rapidamente já se encontrava ao lado de Thialfi e após a contagem regressiva os dois começaram a correr, por mais que os passos do mortal fosse ágeis, o gigante foi mais veloz de forma que Thialfi parecia imóvel e se assustou ao perceber que Hugi já estava voltando, notoriamente o gigante foi mais rápido, fazendo de Thialfi o perdedor.

Sobrando apenas Thor, propôs que trouxessem o maior chifre que houvesse repleto de hidromel, pois beberia todo o conteúdo em apenas um gole. Se for mesmo forte, beberá seu conteúdo de um só trago. Se não for tão resistente assim, precisará de dois grandes tragos. Agora, se for um maricas, então, terá de dar três longos goles. Thor encheu os pulmões de ar e colou a boca ao bocal, puxando todo o conteúdo do gigantesco chifre. Suas bochechas ficaram infladas e lustrosas, mas tão logo engoliu aquele grande trago, percebeu que ainda havia muito para ser engolido. Na verdade, a marca que indicava a quantidade existente dentro do recipiente mal se movera. Derrotado na primeira tentativa, Thor tomou novo fôlego e puxou nova e assustadora quantidade para dentro da boca, que quase estourou de tanto líquido. Mas, foi em vão: a marca permanecia praticamente inalterada. Os gigantes entreolhavam-se com risos e caretas.

Após os fracassos em suas disputas, Utgardloki resolveu dar-lhes mais uma chance e trouxe ali seu gato de estimação, o desafio era simples, levantar o gato, apesar do gato ser bem grande, não parecia ser uma tarefa difícil, Thor tentou e, por mais força que fizesse não conseguia levantar o gato, na verdade levantou um pouquinho, mas não o suficiente para tirar suas patas do chão. Os gigantes constataram que é fracote mesmo.

Espumando de raiva, Thor bradou e propôs uma disputa de força, queria lutar. Utgardloki disse que os fortes ali brigam com fortes, para essa disputa foi chamada a velha Elli. O Deus e a velha postaram-se no centro do salão e a um sinal do gigante a luta começou. Thor arremessou-se à adversária com certa cautela, pois não pretendia maltratar aquela velha centenária. Mas, ela não era nada daquilo que aparentava, e dando um pulo para o lado, que fez inveja ao próprio gato, esquivou-se do ataque e veio postar-se às costas de Thor. Em seguida, aplicou uma valente chave em um dos braços do adversário com tal força, que Thor viu-se obrigado a se ajoelhar e a reconhecer a derrota.

Derrotados e humilhados, receberam um leito para que pudessem dormir e descansar para seguir viagem no dia seguinte, serviram-se em uma mesa repleta de iguarias e bebidas, Utgardloki os acompanhou até a porta da cidade e perguntou à Thor se havia gostado da hospitalidade, já o Deus só pensava na humilhação. Agora fora da cidade Utgardloki resolveu contar o que havia acontecido ali, ele havia os iludido o tempo todo com suas artimanhas. Primeiro na floresta amarrando a mochila com arame para que não pudesse desamarrá-la, sim Utgardloki era Skrymir, as marteladas que teria levado de Thor lá na floresta o teria esfacelado o crânio se realmente o tivesse atingido, mas foi hábil o suficiente para enganá-lo no momento certo, no entanto as marteladas abriram gigantescas e profundas fendas que podiam ser vistas logo adiante.

Foram enganados também nas disputas, o adversário de Loki na disputa da comilança não foi outro, senão o próprio Fogo, que devora tudo quanto encontra pelo caminho. Já aquele contra quem Thialfi disputou a corrida era o Pensamento, sendo impossível a qualquer um correr na mesma velocidade que ele. Já o poderoso Thor, jamais poderia ter esvaziado aquele imenso chifre, pois ele estava ligado na outra ponta ao inesgotável oceano; mesmo assim, olhando bem na direção do mar, é possível ver que ele está com a maré bem baixa, o que prova a quantidade prodigiosa de água que engoliu! Quanto ao gato, cumpre dizer que operou um feito não menos invejável, pois aquele bichano era na verdade a serpente Midgard, a vasta serpente que contorna toda a terra com suas longas espirais. Foi impressionante ter conseguido erguê-la um pouco acima do chão. Mas, de todas as derrotas, com certeza, a menos infamante foi a que lhe pareceu a mais vergonhosa: pois aquela velhota contra a qual lutou era a própria Velhice e jamais alguém pôde vencê-la em tempo algum.

Ao escutar o fim do discurso de Utgardloki, Thor mostrou-se tão furioso - pois, afinal, havia feito papel de bobo diante de toda aquela corte - que ergueu seu martelo Miollnir, pronto a aplicar um castigo de verdade ao gigante. Este, porém, percebendo o perigo, desapareceu instantaneamente. Sem se dar por vencido, Thor retornou ao castelo para destruir tudo, mas quando lá chegou, uma última decepção o aguardava: o castelo havia desaparecido, como num passe de mágica!

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