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Os Sabbats da Roda do Ano


 “O tempo gira como a lâmina de um antigo moinho: cada volta é morte e renascimento.”

Entre as sombras do bosque e o brilho das estrelas, há uma roda invisível que nunca deixa de girar. As bruxas, os druidas e os povos antigos a chamavam de Roda do Ano — o ciclo eterno que move a Terra, o Sol e as almas que caminham entre os dois.

Dividida em oito festas sazonais, essa roda marca o pulsar da natureza, o nascimento, o apogeu e o descanso do mundo. Cada Sabbat é uma vela acesa em um ponto do tempo, um portal para compreender o ritmo do sagrado em tudo que vive e morre.


  • Samhain — O Crepúsculo das Almas (HN - 31 de outubro / HS - 1º de maio)

É o Ano-Novo das Bruxas, quando o véu entre os mundos se torna tênue. Tempo de honrar os ancestrais, lembrar os mortos e semear novas intenções. As colheitas foram feitas — agora resta o silêncio.

  • Yule — O Solstício de Inverno (HN - 21 de dezembro / HS - 21 de junho)

A noite mais longa do ano. O Sol renasce como uma criança divina, símbolo da esperança que resiste à escuridão. É a celebração da luz que volta, mesmo quando tudo parece perdido.

  • Imbolc — O Fogo de Brighid (HN - 1º de fevereiro / HS - 1º de agosto)

O frio ainda domina, mas a terra desperta sob a neve. É tempo de purificação, de acender velas e limpar o espírito. Brighid, deusa da inspiração e da chama doméstica, sopra vida nos corações adormecidos.

  • Ostara — O Equinócio da Primavera (HN - 21 de março / HS - 23 de setembro)

Dia e noite se equilibram. A fertilidade floresce, os ovos e lebres anunciam o despertar da terra. É o renascimento da beleza e o convite para novos começos.

  • Beltane — O Fogo da Vida (HN - 1º de maio / HS - 31 de outubro)

A terra está fértil e o amor dança em cada folha. É o tempo dos casamentos sagrados, da união entre o Sol e a Terra. As fogueiras se acendem, e os corações celebram a abundância e a paixão.

  • Litha — O Solstício de Verão (HN - 21 de junho / HS - 21 de dezembro)

O poder solar atinge seu auge. Tudo está maduro, brilhante, repleto de energia. Mas a roda nunca para — e com a plenitude vem o primeiro presságio do declínio.

  • Lughnasadh — O Banquete da Colheita (HN - 1º de agosto / HS - 1º de fevereiro)

É o tempo de agradecer. Os grãos são colhidos, o pão é partilhado. O deus do trigo sacrifica-se para alimentar o povo — lembrando que toda fartura nasce do ato de ceder.

  • Mabon — O Equinócio do Outono (HN - 21 de setembro / HS - 21 de março)

Dia e noite voltam a se equilibrar. A segunda colheita se encerra, e o ciclo se aproxima de seu fim. É o momento de reflexão, de olhar o que foi semeado e o que floresceu.


Os antigos diziam que a Roda gira fora e dentro. O corpo segue as estações, mas o espírito também tem seus invernos e primaveras. Os Sabbats são lembranças de que nada é permanente, e que a verdadeira magia está em compreender o ritmo das transformações. Cada celebração é um espelho de uma parte da alma:

Samhain fala da morte e do perdão;

Yule, da esperança e renascimento;

Ostara, do equilíbrio e da juventude;

Litha, da plenitude e consciência;

Mabon, da sabedoria e desapego.

A Roda do Ano é, portanto, o caminho da alma antiga, que aprende a morrer muitas vezes para continuar viva. Quando as bruxas dançam sob a lua, não celebram apenas a natureza — celebram o próprio mistério de existir. Pois viver é girar a roda: queimar, renascer e lembrar que o tempo também é um feitiço.

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